Boletim CISB nº2    |    Edição Março 2012

DUAS VISÕES

Qual o papel da universidade em cooperações internacionais voltadas para a inovação?


Guilherme Sales Soares de Azevedo Melo, diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do CNPq

"O papel da universidade é total. Buscar a integração em projetos que envolvam o mercado é o desafio que tem feito com que procuremos aumentar a participação da universidade em projetos que não sejam puramente acadêmicos. Essa atuação pode acontecer através de parques tecnológicos, incubadoras ou estágios coordenados com empresas, por exemplo. Para isso, nos espelhamos em exemplos internacionais de êxito em cooperação para a inovação como a Universidade de Edimburgo e o Imperial College, de Londres, e acreditamos na internacionalização para criar programas de ponta. Uma forma muito interessante dessa troca está acontecendo com o programa Ciência sem Fronteiras, a partir do qual empresas estrangeiras já têm manifestado a intenção de criar centros de pesquisa dentro de universidades brasileiras. A vantagem de tal parceria é que essas empresas podem lançar mão da experiência de pesquisadores brasileiros de qualidade, enquanto esses profissionais têm acesso a novas estruturas e desafios baseados nas necessidades do mercado".

 

 


Johan Carlsten, vice-presidente da Chalmers University of Technology

"A Chalmers University of Technology tem relações com várias empresas ao redor do mundo. Nós acreditamos que é muito importante ouvir o mercado para melhorar as possibilidades de novos conhecimentos. O conhecimento desenvolvido dentro da universidade precisa estar a serviço dos atuais e futuros desafios do mundo. Para fazer parte disso, é importante estar presente globalmente. É por isso que nós cooperamos com o CISB – podemos, assim, estar conectados com atividades globais. Acreditamos que a educação é uma maneira de conduzir esses desafios e o programa Ciência sem Fronteiras do governo brasileiro é uma ferramenta importante para criar um rico intercâmbio entre pessoas, empresas e universidades. Normalmente, lidar com essa interface é muito fácil desde que você se concentre no conhecimento competitivo. Quando a universidade está perto do mercado, é possível trabalhar em um sistema de inovação aberta. Esse contato é estimulante para a criatividade e pode acontecer de diferentes maneiras. Por exemplo, a Chalmers pode atuar como anfitriã para pesquisas de empresas, assim como os nossos professores podem participar de programas de mobilidade dentro de outras organizações".

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SUÍTE

Projeto de microgrids cria desafio técnico e de negócio

CISB desenvolverá estudo em parceria com UFMG e KTH para propor modelo regulatório e de negócio em projeto da CEMIG

As energias renováveis são tema cada vez mais constante na pauta de governos, mas ainda pouco se aplica na realidade dos centros urbanos. O CISB faz parte de um projeto que pretende trazer para o Brasil a integração de sistemas autônomos de geração de energia limpa, os chamados microgrids, com a rede central de distribuição. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) aprovaram o projeto em edital lançado para seu programa de pesquisa e desenvolvimento para o setor energético.

O engenheiro de Tecnologia e Normalização da Cemig, Ricardo Carnevalli, afirma que a ideia é muito promissora, mas envolve dois principais desafios. O primeiro é técnico. O projeto piloto deverá trabalhar com a cogeração de energia solar e a gás abastecendo certo grupo de residências. Esse microssistema pode ser autossuficiente, pode precisar de complementação da rede comum de energia elétrica ou pode gerar excesso na produção local e redirecionar essa energia para a rede da cidade. Isso significa que a rede, que atualmente apenas abastece essa área, poderá também receber um fluxo de energia na direção contrária – o que implica na necessidade de um sistema capaz de se reprogramar para essas mudanças de forma automatizada e à prova de blackouts.

O segundo desafio está no desenvolvimento de regulação desse novo sistema. “A implantação dos microgrids muda a relação entre a Cemig e o consumidor, uma vez que ele agora pode ser ao mesmo tempo comprador e fornecedor”, explica Carnevalli. “Atualmente, no Brasil, ainda não há uma regulamentação bem definida para aplicarmos ao modelo de microgrids e tudo ainda é muito incipiente. É preciso então também repensar o nosso modelo de negócios nesse novo contexto. O que há atualmente é um fluxo unilateral, mas existem outras formas adotadas em outros países e é preciso levar essas alternativas em conta”.

É justamente na solução do segundo desafio que entra o projeto coordenado pelo CISB, por meio de parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais – representada pela professora Eleonora Saad – e o KTH Royal Institute of Technology – com a professora Semida Silveira. Elas coordenarão pesquisadores na área de desenvolvimento urbano para a criação de um novo modelo de negócio para atender essa nova demanda na área de energia.

Carnevalli entende que os microgrids trazem ao mesmo tempo um cenário de risco e oportunidade. As companhias de energia brasileiras hoje faturam com a venda de energia em cima de consumo medido. Quando os consumidores param de comprar dessas empresas porque contam com uma fonte alternativa, há a perda de receita. “Se essas redes independentes crescem e ganham proporção, esse risco é ainda maior”, acredita. “Por outro lado, enxergamos oportunidade nesse risco. A companhia pode ser sócia do empreendimento com serviços de operação e manutenção, por exemplo”.

A gerente de parcerias do CISB, Alessandra Holmo, acredita que o projeto tem uma perspectiva promissora, uma vez que aliará ao trabalho de uma universidade brasileira de ponta a experiência sueca com projetos bem sucedidos de microgrids. “Na Suécia, o conhecimento sobre microgrids é bem consolidado. Vamos lançar mão de uma competência existente para entender e propor as melhores soluções para colocar em prática no contexto brasileiro”, diz. Segundo ela, o ambiente de colaboração proposto pelo projeto é importante por se tratar de uma área crítica.

O projeto terá duração de três anos e a expectativa é que inicie as operações a partir de maio. A colaboração entre os dois países será reforçada com a realização de workshops anuais, sendo o primeiro na Suécia e os seguintes no Brasil. “Serão momentos importantes para dispor do conhecimento existente sobre o assunto, fazer contatos e estabelecer uma rede de relacionamentos estratégicos que podem se transformar em novas oportunidades de parceria para a Cemig”, explica Alessandra. Nesses eventos, profissionais envolvidos no projeto e especialistas ligados ao tema discutirão o estado da arte na área de microgrids e os encaminhamentos do programa da Cemig.

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PERFIL

Perspectivas da Saab no Brasil vão além do Gripen

Amplamente reconhecida no Brasil pelo interesse em trazer seu caça Gripen para as Forças Armadas Brasileiras (FAB), a atuação da Saab no país vai muito além. A companhia é fornecedora de longa data da FAB e vem estreitando seu relacionamento com o Brasil gradualmente ao longo dos últimos quinze anos. Se o caça ainda não é adotado por aqui, sistemas de radares, camuflagens e equipamentos de treinamento, por sua vez, já fazem parte do portfolio.

Na última década, um dos programas mais significativos da SAAB no Brasil envolveu o fornecimento de sistemas de alerta aéreo antecipado Erieye – avançado sistema de radar para a detecção de alvos aéreos a longas distâncias – por meio do Programa de Vigilância e Proteção da Amazônia. A Marinha do Brasil também é cliente da companhia tanto em equipamentos para navios de superfície, como por meio do Corpo de Fuzileiros Navais.


Para Åke Albertsson, as atividades de P&D são fundamentais para para a competitividade da Saab

Atualmente, o principal objetivo da companhia no Brasil é a concorrência pelo caça – produto com o qual se destaca mundialmente. Porém, a empresa desenvolve paralelamente diversos outros projetos. Suas operações estão distribuídas em cinco principais unidades de negócios: aeronáutica; dynamics; sistemas eletrônicos de defesa; soluções de defesa e segurança; e suporte e serviços.

Com amplo histórico de cooperação internacional e inovação, a Saab investe fortemente em projetos de pesquisa e desenvolvimento. “Nós temos uma longa tradição de colaboração com os nossos países clientes para o desenvolvimento conjunto de desafios. No Brasil, temos interesse crescente em desenvolver programas para inovação e estabelecer novos relacionamentos”, afirma o gerente geral da Saab para o Brasil, Åke Albertsson.

Ele ressalta que defesa e segurança são o core business da empresa e, como resultado dos investimentos em P&D, foram criadas soluções e sistemas em outras áreas, como o setor energético.  Para incrementar esse trabalho, em 2010, a Saab criou e investiu no Centro de Inovação e Pesquisa Sueco Brasileiro. A organização independente e sem fins lucrativos nasceu para articular atores de diferentes áreas e gerir projetos de pesquisa e desenvolvimento inovadores na interface dos interesses dos dois países por meio de parcerias com a indústria nacional, centros de pesquisa e universidades.

O diretor executivo do CISB, Bruno Rondani, explica que o centro supre uma demanda latente dos países e atende a interesses mais amplos do que apenas os da companhia. Ao patrocinar a organização, a Saab liderou um movimento de proporções abrangentes para as duas nações e criou um importante canal para o desenvolvimento de tecnologias que poderão ser utilizadas em seus negócios. “A empresa tem uma visão clara sobre a importância de P&D e de como se beneficiar da cooperação com pesquisadores locais”, acredita. Para Albertsson, as atividades de P&D são fundamentais para a manutenção da competitividade da empresa – cerca de 20% da receita é direcionada para essa área. A Saab também mantém atividades de pesquisa em outros países clientes, como África do Sul, Índia e Estados Unidos. “Nossas atividades são globais, por isso faz sentido que nossa atuação em P&D também ocorra em vários países”, afirma.

Outro importante braço da empresa para a inovação é a Saab Ventures. Quando surgem projetos promissores a partir das atividades de P&D da Saab em que se percebe que podem ser mais bem aproveitados por meio de novos negócios, eles passam por processos de spin out. Ao mesmo tempo, o braço de investimentos do grupo busca empresas emergentes que podem agregar valor ao core business da Saab e incentiva o desenvolvimento de projetos inovadores independentes.

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ARTIGO

Modelo sueco de inovação pode inspirar o Brasil

Bruno Rondani, diretor executivo do CISB

A economia brasileira cresce em ritmo acelerado e se destaca no cenário internacional. Nesse momento, o país se depara com a missão de continuar crescendo e cada vez mais. Para o Brasil sustentar o crescimento, será preciso desenvolver nos próximos anos um sistema nacional de inovação proporcional à sua pujança econômica. O modelo dos parceiros suecos se mostra inspirador.

O país sempre esteve entre os primeiros colocados nos rankings de inovação e é, hoje, detentor do curioso título de nação com a maior proporção de empresas globais per capita. Uma série de fatores tornou a Suécia referência e não é à toa que se fala tanto no Swedish model for innovation. Entre inúmeros êxitos, talvez uma das principais razões para o sucesso sueco baseie-se justamente na busca de soluções para desafios mundiais. Essa definição simples obedece à premissa de que, caso se encontrem soluções inovadoras para problemas globais, conquistam-se mercados globais. Quando o mundo é o alvo, os limites para o crescimento alargam-se ao máximo.

Para conquistar esse mercado, o Brasil precisa sistematizar e intensificar seu modo de inovar. Nesse âmbito, desafio, sistematização, cooperação e tempo são palavras-chave. A Suécia chegou ao atual patamar porque encontrou meios de crescer através da colaboração entre governos, empresas de todos os portes e universidades em um sistema de inovação aberta. Com todos esses atores mobilizados e articulados para atingir objetivos comuns, criam-se as open innovation arenas. Em vez de uniões pontuais, essa forma de trabalhar se transformou em um modelo, com a sistematização dos processos de inovação aberta.

O sucesso do modelo prova que a inovação não é fruto de insights nem do trabalho individual de pessoas ou empresas. É um processo complexo que, assim como outras áreas da gestão, exige disciplina e gerenciamento para que a colaboração seja sistematicamente estimulada. Com base nesse modelo é que o CISB se pauta, reunindo empresas de diversos setores, que se articulam e cooperam entre si para uma mesma missão – rompendo com o modelo tradicional em que cada organização buscaria montar seu instituto individualmente.

Uma oportunidade de ver essa cultura de cooperação ser colocada em prática no contexto brasileiro ocorrerá ainda no primeiro semestre deste ano, por meio do Race for Innovation – evento realizado pela embaixada sueca no Brasil. A ação simula, em proporções reduzidas, o desafio cotidiano que o Brasil precisa enfrentar para se tornar uma potência inovadora. Ao longo de 72 horas, grupos de estudantes irão se reunir para, em colaboração, buscar soluções para desafios propostos ali. Ao final, precisam entregar uma resposta inovadora para ser adotada no mercado.

Mais que extrair da disputa produtos ou serviços prontos para serem aproveitados na prática, o grande valor da experiência está no aprendizado. A arena proposta cria uma miniatura do processo de inovação: a identificação do desafio, o estabelecimento de uma equipe mobilizada para enfrentá-lo, a organização necessária para dar todos os passos rumo à criação da solução e a execução de cada etapa. Permeando tudo isso, o fator tempo como limitador e, paradoxalmente, propulsor dos resultados. Em alguns dias, um mês ou um ano, a metodologia precisa ser a mesma.

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NOTÍCIA BRASIL

MCTI publica Estratégia Nacional Ciência, Tecnologia e Inovação 2012-2015

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação publicou a Estratégia Nacional Ciência, Tecnologia e Inovação para o período de 2012 a 2015. A publicação cita como objetivo final a transformação do país em potência científica, tecnológica e inovadora. Entre os diversos pontos tratados, o fomento à internacionalização da ciência e dos cientistas brasileiros por meio do programa Ciência sem Fronteiras é tido como fundamental, bem como o fortalecimento das atividades de cooperação científica e tecnológica com outros países. O documento também enfatiza o apoio à internacionalização das empresas brasileiras e à aquisição de ativos tecnológicos no exterior, a atração de centros de P&D de empresas multinacionais para o Brasil e o incentivo aos processos de transferência de tecnologia. Outro fator ressaltado no texto é a ampliação da questão da governança das ações de promoção da C,T&I por meio da interlocução entre governo federal, estados e municípios, agências de fomento, institutos de pesquisa, universidades e empresas. Segundo o documento, é importante que o país trabalhe para ter ferramentas cada vez mais eficazes de acompanhamento e avaliação dos resultados e maior integração entre as políticas, instrumentos e agências. O conteúdo completo pode ser acessado pelo link: www.mct.gov.br/upd_blob/0218/218981.pdf.

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NOTÍCIA SUÉCIA

Embaixada sueca traz evento de inovação para o Brasil

A Embaixada da Suécia no Brasil traz para o país o Innovation for Sustainability. O evento, que já teve três edições em Stanford (EUA), Washington (EUA) e Toronto (Canadá), chega ao Rio de Janeiro a partir de 28 de maio. Ao longo de uma semana, o Centro Cultural Banco do Brasil abrigará ações com o mote inovação para o desenvolvimento sustentável. Haverá palestras com especialistas de universidades e da indústria com enfoque nos temas comunicação, tecnologia limpa e ciências da vida. A partir das discussões teóricas da primeira fase, serão definidos os principais desafios em cada área. Essas definições serão a base das atividades do Race for Innovation – disputa em que grupos de universitários têm 72 horas para criar soluções inovadoras para problemas propostos no evento. O objetivo é que, com o apoio de profissionais de diversas áreas, estudantes da USP, UFABC, UFE, UFRJ e PUC Rio percebam a importância da colaboração e corram contra o tempo para criar processos bem sucedidos.

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