Nesta edição especial, convidamos Cristina Zuffo, Superintendente de PD&I na Sabesp e participante de um dos webinars do Annual Meeting, para contar sobre sua trajetória nas áreas da ciência, tecnologia e inovação.
Conte-nos sobre sua experiência profissional, atividades e projetos na Sabesp.
Cristina: Sou formada em engenharia civil, trabalhei na área financeira por 3 anos até voltar para a engenharia na Sabesp onde atuei por 13 anos em estudos, projetos e planejamento voltados ao abastecimento na Região Metropolitana de São Paulo. Desenvolvi diversos projetos de eficiência energética, adutoras, reservatórios, estações de bombeamento normais e reversíveis, dentre vários outros. Com isso adquiri uma grande experiência na operação de sistemas de distribuição de água de grande porte. Em 2010, fui convidada para assumir o departamento de Prospecção Tecnológica e em seguida assumir a superintendência de PD&I da empresa. Foi um grande desafio, pois a área era recém-criada e não havia no setor de saneamento no Brasil e América Latina, nenhuma empresa com uma estrutura semelhante voltada à PD&I que pudéssemos realizar um benchmarking. Tivemos que começar a construir do zero as estratégias, diretrizes e objetivos, assim como, lidar com uma gama enorme de temas e demandas que passam direta ou indiretamente pelo setor de saneamento, além de prospectar e formalizar parcerias com inúmeros atores relacionados ao setor, tais como, empresas, startups, órgão de fomento, financiadoras, agências reguladoras, universidades dentre outros.
No decorrer da sua carreira, você enfrentou desafios que acredita ter enfrentado por ser mulher?
Cristina: Sim, com certeza. Alguns valores estão muito arraigados na sociedade e as próprias mulheres muitas vezes acabam, involuntariamente, se colocando numa posição de submissão e conformismo. Nunca me deixei vencer por estas questões, sempre procurei agir com naturalidade diante destas situações e demonstrar meu valor pelas minhas ações, exemplos e muita persistência.
Se sim, você poderia contar os principais desafios e como os superou?
Cristina: O maior desafio, foi eliminar o estereótipo de que as mulheres não são compatíveis com engenharia ou tecnologia. Num primeiro momento, nunca me viram como uma pessoa que pudesse discutir tecnicamente um projeto. Participei de diversas reuniões onde todos achavam que eu era a redatora de atas…, sinceramente até me divertia com isso, porque quando finalmente deixavam eu falar, todos se calavam e a partir deste momento passavam a me respeitar. Vejo que isso é muito comum na sociedade como um todo, principalmente em ambientes corporativos, e o pior é que existe preconceito até das mulheres para com as próprias mulheres. Muitas me perguntam porque eu trabalho com tecnologia, porque isso é coisa para homens…
Lembro de um fato que para mim foi muito marcante. Venho de uma família de pesquisadores e estudei em colégio de padres. Um dia quando estava no terceiro ano do ensino médio, estava fazendo uma prova, quando o padre chegou ao meu lado e disse: “ Você nunca vai entrar em engenharia na USP, como seus irmãos!”, aquilo num primeiro momento me destruiu, mas depois foi tudo que eu precisava para lutar ainda mais. Anos depois nos encontramos e pude mostrar para ele com uma enorme satisfação, meu diploma de graduação e mestrado na USP. Não existe barreira que possa impedir a determinação. Costumo fazer de tudo em casa jardinagem, instalações elétricas, hidráulicas, pintura e pasmem, mas cozinho também! Acredito que a mulher tem que ser auto-suficiente e acreditar que pode tudo que quiser.
Como você percebe a mudança e o aumento da participação das mulheres nas áreas de ciência e inovação no Brasil?
Cristina: Vejo que gradativamente está aumentando, vide nosso último webinar onde todas as palestrantes eram mulheres e extremamente competentes. Acredito que nos últimos anos a mudança está ocorrendo de forma mais acelerada, até porque vejo uma mudança de abordagem das novas gerações e também da educação nas escolas. Mesmo nos contos de fadas atuais a mudança é grande e as mulheres assumem o papel de super-heroínas e não apenas aquele estereótipo submisso que mal falava e sempre estava à espera de um príncipe as salve. Isso era terrível porque mexe com o subconsciente das mulheres desde sua formação básica.
Você tem incentivado a diversidade em seus projetos e/ou equipe? Se sim, como?
Cristina: Sim, sempre procuro incentivar e criar um ambiente plural dentro da equipe. Gosto de estimular os funcionários a aumentarem seus conhecimentos, mesclarem competências e sempre se desafiarem. Posso dizer que atualmente conseguimos criar um ambiente de equilíbrio e respeito mútuo na área, tanto que as avaliações de clima estão com resultados muito bons e refletem este equilíbrio. Atualmente se tornou uma coisa normal na área que os projetos tenham participação de mulheres e homens de forma equilibrada. Temos muitos projetos onde a liderança é feminina. Arrisco dizer que dentro da área hoje não existe qualquer tipo de preconceito, principalmente contra as mulheres.