Cooperação entre CISB, CNPq e Saab completa 5 anos e se mostra amplamente bem-sucedida,
contribuindo para uma sólida relação entre Brasil e Suécia.
Por volta de 2012, o governo brasileiro sonhava em ver seus estudantes desbravando novos países. Para isso, criou o programa Ciência sem Fronteiras com o objetivo de que milhares de acadêmicos de vários níveis, de graduandos a pós-doutorandos, passassem pelo menos um ano no exterior para aprimorar seus conhecimentos e trouxessem novos conhecimentos ao Brasil.
Foi por essa época que o CISB começou a tomar forma. Aproveitando a ascensão da iniciativa governamental, traçou uma parceria estratégica entre o CNPq (agência estatal de fomento a pesquisa) e a sueca Saab para promover o intercâmbio de pesquisadores. Uma história de sucesso começava a ser contada.
Alguns dados dão uma dimensão clara do que vem sendo atingido. Em 2012, na primeira chamada da recém-estabelecida parceria, foram 28 projetos inscritos. Na mais recente chamada, em 2016, esse número saltou para 162. No total, 13 doutorados sanduíche e 21 pós-doutorados foram realizados, além de inúmeros projetos de continuidade e desdobramentos.
Alessandra Holmo, Managing Director do CISB, comemora os resultados salientando alguns dos desafios iniciais. “EUA e Alemanha são os países mais procurados pelos pesquisadores. No geral, poucos têm conhecimento sobre a Suécia, por isso que no começo foi muito difícil atrair interessados”, relembra.
Conforme os pesquisadores foram voltando, passaram a relatar o sucesso de suas experiências no país escandinavo. A seriedade com que as pesquisas são desenvolvidas, a cultura de otimizar o tempo para desenvolver trabalhos mais assertivos e a altíssima qualidade do conhecimento acadêmico se tornaram grandes atrativos para que novos interessados se inscrevessem. Além, é claro, do bem-sucedido modelo sueco de hélice tripla, em que a cooperação entre academia, indústria e governo se consolida em uma importante plataforma para o fomento da inovação.
Resultados
Hoje, muitos dos que passaram pela experiência atuam como se fossem verdadeiros embaixadores da Suécia no Brasil. É o caso da professora Emília Villani, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Participante da primeira chamada da parceria, ela atualmente está envolvida em praticamente todas as ações desenvolvidas entre as universidades suecas. E a quantidade de projetos vem crescendo a cada ano, principalmente a partir de 2013, quando o governo brasileiro anunciou a compra dos caças suecos Gripen, desenvolvidos pela Saab, o que levou o ITA a estreitar suas relações com o país europeu.
Emília diz que já organizou a visita de uma comitiva do ITA para algumas universidades suecas, além de workshops e apoio das cátedras do CISB junto ao instituto. “A partir do anúncio da compra dos caças, começou a haver mais volume de intercâmbio”, conta. Ela diz que atualmente há cátedras com as universidades Chalmers University of Technology (CTH), Linköping University (LiU) e o Royal Institute of Techonolgy (KTH), cada uma com duração de três anos.
A professora opina que “a integração com outros grupos de pesquisa permite conhecer melhor a realidade fora do Brasil e dá oportunidade de autoavaliação aos envolvidos: o que precisam melhorar, quais os pontos fortes do trabalho etc.”. Para ela, “a internacionalização é essencial para manter a qualidade na pesquisa”.
O professor Victor Juliano De Negri vai na mesma linha. Titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na área de Engenharia Mecânica, trabalha em ações do CISB desde o início das atividades da instituição. Ele conta que a relação entre os dois países traz benefícios nítidos para a qualidade da pesquisa. “O principal ganho é dar segurança para pessoa saber que está fazendo algo de boa qualidade em comparação com outros países”, diz.
De Negri conta que um dos resultados mais palpáveis dos intercâmbios é a montagem de um demonstrador de modelos matemáticos na área de aeronáutica que vem comprovando as teses propostas pelos pesquisadores. “Não havia demonstrador para esse setor no Brasil”, explica. Todo o projeto foi feito na UFSC.
Segundo ele, o contato com instituições estrangeiras dão aos alunos “a oportunidade de terem teses e dissertações em um campo de atuação interessante (aeronáutica), com perspectiva de desenvolvimento tecnológico a ser implementado em aviões”. O professor também elogia o modelo de hélice tripla. “A experiência no exterior estimula a busca por essa prática também no Brasil”, opina.
Outro resultado da cooperação bastante satisfatório é o de Renato Machado, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Ele trabalhou ao lado de Mats Pettersson, o criador do sistema de radares da Saab, em um trabalho que aumentou significantemente a acuracidade do monitoramento com esse tipo de equipamento. “Criei uma solução em que a uma taxa de detecção do sistema ficou próxima a 100% e a de falso alarme caiu para 12% (era de 60%). Os resultados foram publicados em dois periódicos”, conta.
Mais do que o sucesso com as pesquisas, dessa relação com Pettersson nasceu uma amizade que vem trazendo muitos benefícios para os brasileiros. Alguns alunos estão indo para a Suécia trabalhar com o especialista enquanto o próprio “papa dos radares” vem frequentemente ao Brasil ministrar palestras em congressos da área, criando um vínculo de valor inestimável para a pesquisa nacional.
Alessandra Holmo não esconde a satisfação com o que foi alcançado até aqui. “O CISB se consolidou como um grande facilitador e catalizador nos projetos entre academia e indústria. Essa continuidade que os professores estão dando ao trabalho inicial é fundamental, pois poderá ser um grande indutor para a inovação industrial e na relação Brasil-Suécia”, diz, projetando um futuro promissor para o país.